Livro: Deus, não sem nós
autor: Manuel Hurtado
Editora: Edições Loyola
Deus, não sem nós, o título desta obra, mostra a radical determinação do ser de Deus para nós. Essa determinação geral e plural só é possível por uma determinação concreta e singular, a do ser de Deus por e para os “pobres da terra”. Deus é Deus como Deus dos pobres e não de outro modo, condição de possibilidade da determinação do ser de Deus a ser para todos nós. “A humanidade de Deus” nos permite refletir essa determinação do ser de Deus a ser para nós a partir de sua determinação a ser para os últimos da história. Deus não quer ser Deus sem nós, porque ele não quer ser Deus sem os pobres. Esta obra quer esboçar sit venia verbo os fundamentos de uma “teologia dos pobres”.
Se os pobres estão implicados na definição de Deus, apenas é possível pelas mediações que constituem a economia do ser trinitário de Deus: a identificação de Deus ao homem Jesus pela Encarnação e a identificação de Jesus aos pobres pela solidariedade histórica com eles. Dessas duas mediações resulta uma terceira: a identificação do próprio Deus aos pobres, que não se dá da mesma maneira que a primeira, mas continuamente em “superabundância”, “excesso”. Deus não é sem Jesus e ele não é sem os pobres. Esse “não-ser-sem” determina intrinsecamente o ser de Deus, mas de um modo diferente num caso e noutro.
Manuel Hurtado, jesuíta boliviano, nasceu em 1967. É doutor em teologia pelas Faculdades Jesuítas de Paris (Centre Sèvres) e professor de teologia sistemática na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE) em Belo Horizonte. Colabora também na Faculdade de Teologia da Universidade Católica Boliviana, em Cochabamba. Ministra o curso "Caminhos da Experiência espiritual e Mística" no Centro Loyola-BH.
Veja a apresentação do Livro, feita pelo autor:
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Equipe do site
01.10.2013
Programas de busca, smartphone, aplicativos, rede social: as recentes tecnologias digitais invadiram com força nosso cotidiano. Entretanto, não apenas como instrumentos externos a serem usados para simplificar a comunicação e a relação com o mundo; na verdade, desenharam um espaço antropológico novo que está mudando nosso modo de pensar, de conhecer a realidade e de manter relações humanas.
A essa altura, o autor, Antonio Spadaro, se pergunta, e nos pergunta também: a revolução digital influencia de alguma forma nossa fé? Será que não se deveria começar a refletir sobre como o cristianismo deva ser pensado e falado neste novo cenário humano? Talvez seja hora de considerar a possibilidade de uma “ciberteologia” entendida como inteligência da fé (intellectus fidei) nos tempos da rede. Não se trata, porém, de simplesmente procurar na rede novos instrumentos para a evangelização, ou fazer uma reflexão sociológica a respeito da religiosidade na internet. Ao contrário – e aqui está a novidade pioneira de Spadaro –, trata-se de encontrar os pontos de contato e de interação produtiva entre a rede e o pensamento cristão. A lógica da rede, com suas poderosas metáforas, proporciona ocasiões inéditas para nossa capacidade de falar de comunhão, dom, transcendência. E, por sua vez, o pensamento teológico pode ajudar o homem na rede a encontrar novos caminhos em sua trajetória para Deus.
É um território ainda inexplorado que Spadaro aborda com um indiscutível conhecimento teológico e grande competência técnica, principalmente com o espírito de confiança na capacidade de o cristianismo e a Igreja estarem presentes onde o homem desenvolve sua capacidade de conhecimento e relacionamento. A rede é um contexto em que a fé é chamada a se exprimir não por causa de uma mera “vontade de presença”, mas uma conaturalidade do cristianismo com a vida do ser humano. O desafio, portanto, não está em como “usar” bem a rede, mas como “viver” bem nos tempos da rede.
***
Antonio Spadaro, padre jesuíta, é diretor da revista La Civiltá Cattolica e professor na Pontifícia Universida- de Gregoriana, na qual obteve seu doutorado em Teologia; consultor do Pontifício Conselho da Cultura e do Pontifício Conselho das Comunica- ções Sociais; e autor de muitas obras sobre cultura contemporânea e de ensaios sobre a internet. Em janeiro de 2011 criou o blog Cyberteologia.it (prêmio WeCa 2012), que mantém até hoje.
Equipe do site
04.09.2013
4. As linguagens das juventudes e da libertação
João Batista Libânio – Edward Guimarães
Editora Paulus
Nenhuma linguagem esgota a riqueza que irradia da pessoa de Jesus. Figura maravilhosa que há mais de 20 séculos tem fascinado milhões e milhões de pessoas: seguidores, pensadores, escritores, poetas, compositores, pintores, escultores e outros artistas. Cada geração tem mantido com ele contacto vivo, o interpretando com jeito próprio de falar, escrever e expressar por meio de alguma arte. Criam sempre novas maneiras de abordá-lo. Aqui buscamos apresentar algumas dessas expressões.
Eis o vol. 4 da série Linguagens sobre Jesus. O livro, organizado em duas partes, aborda as linguagens das juventudes e da libertação.
Na parte I, em sintonia com a Campanha da Fraternidade 2013, Juventude e Fraternidade, e no espírito da Jornada Mundial da Juventude, descreve e analisa a linguagem sobre Jesus das juventudes. Que linguagem sobre o “profeta crucificado e ressuscitado” lhes brota do coração, dos desejos, das canções e das expressões religiosas? Os jovens falam e falam muito sobre Jesus. Paremos um minuto para saborear-lhes as linguagens e sentir-lhes o pulsar do coração. Há enorme pluralidade de linguagens a mostrar-nos a mesma diversidade de perfis juvenis. A diversidade enorme dos tipos de jovens permite o surgimento de pluralidade de linguagem. Estas nascem da experiência de uns e, certamente, provoca e/ou alimenta a experiência de outros. Por meio delas, Jesus continua a ser encontrado de geração em geração e a provocar experiências de sentido para a vida.
O livro percorre maravilhosa gama de falas. Sonda os jovens do tempo de Jesus. Concentra-se, porém, nos de hoje. Lá estão os que revelam tendência tradicional. Outros manifestam toque carismático. Há aqueles que se proclamam religiosamente independentes, mas não esquecem a Jesus. E também não faltam os engajados socialmente. Nenhuma linguagem esgota a riqueza que irradia da pessoa de Jesus. Figura maravilhosa que há mais de 20 séculos tem fascinado milhões e milhões de pessoas: seguidores, pensadores, escritores, poetas, compositores, pintores, escultores e outros artistas. Cada geração tem mantido com ele contato vivo e o interpretando com jeito próprio de falar, escrever e expressar por meio de alguma arte. Criam sempre novas maneiras de abordá-lo. Aqui buscamos apresentar algumas dessas expressões.
Na parte II, abre-se então o campo para avançarmos a reflexão sobre a linguagem da libertação sobre Jesus. Perguntamo-nos acerca da linguagem sobre Jesus brotada na caminhada libertadora da Igreja da América Latina. Esta não se contentou em reproduzir, em seu seio, linguagens de outros Continentes. Bem pontualizava Henrique Vaz, ao dizer que chegara o tempo de gestar a Igreja-fonte e deixar de ser Igreja-reflexo. O mesmo vale da linguagem sobre Jesus. As linguagens tradicional, moderna e mesmo pós-Vaticano II se forjaram na Europa e de lá se irradiaram.
O livro mostra que no Continente latinoamericano produziu-se discurso diferente: libertador. Aqui gritavam vozes oprimidas à espera de palavras de libertação. Não bastava falar do Jesus da exegese moderna nem das pesquisas científicas que, sem dúvida, trouxeram muitas novidades. Fazia mister encontrar a linguagem de Jesus Cristo Libertador. A linguagem da libertação foca a relação entre Jesus e o Reino de Deus. Admira-lhe a liberdade e o tom profético. Termina mergulhando nas Comunidades eclesiais de base e aí beber-lhe a linguagem libertadora.
Equipe do site
01.07.2013
BETTO, Frei. O que a vida me ensinou, Saraiva: São Paulo, 2013.
No livro O que a vida me ensinou, Frei Betto, como nas diversas obras já publicadas, brinda-nos com instigantes e provocantes reflexões. O estilo do texto prende o leitor do início ao fim, pois, trata-se de conversa franca, amiga, concreta, cheia de entusiasmo e próxima do pulsar da vida. Dá vontade de interagir com o autor e dizer-lhe como vemos ou sentimos a vida também.
Nesta obra, por meio de doze recortes autobiográficos, o autor se desnuda e se dá a conhecer por meio da partilha de vivências profundas e impactantes de sua trajetória de vida. Em cada um deles, longe de ocupar simplesmente a centralidade do palco, convida-nos antes, a cada linha, a vencer o medo, olhar no espelho e avaliar a própria performance política na jornada da vida. Esta não tem ensaio. Acontece sempre ao vivo. Importa, portanto, o quanto antes, conhecermos a conjuntura, os sinais do tempo e do lugar onde atuamos e assumirmos corajosamente que a cada decisão, a cada passo... “cada um de nós compõe a sua história e cada ser em si carrega o dom de ser capaz e ser feliz”.
A cada linha explicita-nos a complexidade da realidade humana, em sua busca de realização e felicidade. A vida nos impõe exigências singulares. Se, junto com os demais seres vivos, coexistimos no mesmo planeta, a situação do ser humano revela-se original. Não nos basta sobreviver ou deixar a vida nos levar. Somos timoneiros do próprio barco e induzidos a assumir o leme e decidir a direção. Somos radicalmente indeterminados e abertos à transcendência. Além disso, a aventura da liberdade nos desafia, cotidianamente, a imprimir sentido à existência.
O dom da consciência ofereceu-nos oportunidades de desenvolver preciosas potencialidades específicas. Dentre elas merecem destaque as capacidade de: refletir sobre o caminho trilhado; admirar a beleza do caminho; tornar-se “eterno aprendiz”; desenvolver habilidades novas; guardar na memória afetiva experiências vividas, registrá-las, refletir novamente sobre elas e atribuir-lhes novos significados a cada balanço de vida; aguçar a sensibilidade diante da verdade, da beleza, da unidade, da bondade, da alteridade e, de modo muito especial, daquela que se encontra em situação vulnerável. A criança, o idoso, o empobrecido, o doente... somos interpelados social, política e eticamente ao contemplar o rosto humano. Somos impulsionados a amadurecer a capacidade de amar, responder, cuidar e promover a dignidade da vida.
No final, como cristão místico e militante e a título de conclusão, o autor nos oferece dez preciosos conselhos para quem deseja viver com autenticidade a religião no século XXI. Vale a pena conferir! Desejamos a todos boa leitura!
Edward Guimarães
Equipe do Centro Loyola
01.07.2013
O Pai-nosso aberto a crentes e não crentes.
Autor: José Tolentino Mendonça
Edições Paulinas, 2013.
“Qual é a vontade de Deus? A vontade de Deus é o Amor. O nosso único dever é o Amor. E, quando a gente diz: “Seja feita a vossa vontade”, sabe de antemão que isso significa: “Seja cumprido, atualizado, redesenhado o Amor”.
Estamos diante de um livro lindo! Além de profundo, poético, leve, é um livro para contemplar e meditar... O autor, que é padre e poeta português, nos coloca diante das grandes belezas-verdades da essência do cristianismo e da existência.
Veja abaixo parte da apresentação do livro:
Com este livro, José Tolentino Mendonça enfrenta um desafio corajoso e difícil: dirigir-se a crentes e a não crentes com as palavras do Pai-Nosso, a oração cristã por excelência, a que Tertuliano chamava "compêndio do Evangelho". O Autor capta no Pai-Nosso uma luz para o humano enquanto tal, uma direção para o seu caminho, enquanto ser humano, ainda antes das suas crenças e das suas pertenças confessionais.
A ideia que torna possível semelhante propósito é a de que esta oração exprime de tal modo a humanidade do homem que cada ser humano pode encontrar-se representado no Pai-Nosso. Nesta vontade de dirigir-se também aos não crentes há a madura convicção de que Jesus é "mestre de humanidade", de que o humano é espelho do divino, de que o ser humano é imagem de Deus e de que tudo o que é humano diz respeito ao próprio Deus.
Esta abertura ao outro - e também àquele que não pode, ou não consegue, ou não quer crer - produz um efeito de essencialidade e de simplicidade no olhar do autor, cuja visão da vida e da fé cristã emerge amplamente deste livro.
O autor percebe a dimensão universal do Pai-Nosso, onde a universalidade tem de confrontar-se com o fato de que cada ser humano é um filho. Cada ser humano tem uma interioridade, é um ser de desejo, precisa de pão e de perdão, luta contra o mal, habita aquela terra que, na ótica da encarnação, já não é o lugar que o separa de Deus, mas o único lugar do encontro possível entre o homem e Deus. Pela sua originalidade, está obra interessa a um amplo leque de leitores desejosos de viver, de modo mais autêntico, os valores humanos e cristãos.
Equipe do site
15.06.2013
Organizadores: João Décio Passos e Afonso M. L. Soares
Edições Paulinas - 2013
A renúncia do Papa Bento XVI seguida do Conclave e da eleição do novo Papa revelaram rupturas inesperadas na Igreja Católica, mesmo sendo a renúncia uma possibilidade prevista no próprio Código de Direito Canônico. A renúncia do Papa revelou vínculos implícitos com uma crise mais ampla e profunda na Igreja, o que impossibilitou o pontífice idoso de continuar seu mandato, conforme a tradição secular. E a mensagem ficou clara: deixar o papado para o bem da Igreja.
O livro quer refletir a novidade representada pela eleição de Francisco como bispo de Roma e traz, além de uma Parte intermediária de apresentação da biografia e do significado da eleição de Jorge Mario Bergoglio; uma 1ª Parte de análise da crise que precipitou a renúncia de Bento XVI e uma Parte conclusiva, com prospectivas do que poderá representar outra primavera na Igreja Católica, que promova uma volta às origens, retomando o caminho dos pobres e da pobreza como seu carisma fundante, por meio de uma reforma evangélica em plena fidelidade criativa ao Vaticano II. O livro conta ainda com prefácio de Dom Demetrio Valentini e posfácio de Dom Angélico S. Bernardino.
Participam do livro com reflexões interessantes o Pe. João Batista Libânio, Maria Clara Bingemer, Pe. Manoel de Godoy, Pe. Agenor Brighente e outros importantes teólogos e pastoralistas.
Equipe do Centro Loyola
01.06.2013
Autor: André Comte-Sponville
Editora: Martins Fontes
No livro Pequeno Tratado das Grandes Virtudes, de André Comte-Sponville, o autor retoma um modo de pensar caro aos gregos e que nunca esteve inteiramente ausente da tradição filosófica. Vendo na Ética um campo que singulariza a experiência humana, Comte-Sponville procura aproximar a reflexão da vida, e o faz através do conceito de virtude. Com Aristóteles ou com Spinoza, o que está em jogo é a busca do que faz da existência humana, ou da vida de cada um de nós, um exercício permanente do desejo de humanidade. Virtudes, cito o livro, “...que fazem com que um homem parecer mais humano ou mais excelente ... do que outro, e sem as quais... seríamos a justo título qualificados de inumanos”.
O Pequeno Tratado das Grandes Virtudes, de André Comte-Sponville, é parte da safra de livros de filosofia voltados, senão para o grande público, para leitores que dificilmente se ocupariam de textos em torno dos quais gravita uma formação acadêmica em filosofia. Versando sobre as virtudes - fidelidade, prudência, gratidão, humildade, compaixão e humor, entre outras -, o autor retoma um modo de pensar caro aos gregos e que nunca esteve inteiramente ausente da tradição filosófica. Vendo na Ética um campo que singulariza a experiência humana, Comte-Sponville procura aproximar a reflexão da vida, e o faz através do conceito de virtude. Com Aristóteles, cm os estóicos ou com Spinoza, entre outros, o que está em jogo é a busca do que faz da existência humana, da vida de cada um de nós, um exercício permanente do desejo de humanidade. Virtudes, cito o livro, “...que fazem com que um homem parecer mais humano ou mais excelente ... do que outro, e sem as quais... seríamos a justo título qualificados de inumanos”.
Ricardo Fenati
Equipe do Centro Loyola
15.05.2013
Sobre Educação e Juventude
1a. edição, 2013
Zygmunt Bauman
Zahar Editora
Nesse livro o sociólogo Zygmunt Bauman reflete sobre o destino dos jovens e o papel da educação e do educador na era da modernidade líquida, indicando alguns caminhos. Segundo ele, cabe ao educador fomentar o espírito crítico dos estudantes, fornecendo as condições para viverem em um mundo cada vez mais multifacetado.
"Em Sobre educação e juventude, o sociólogo Zygmunt Bauman, em diálogo com o italiano Ricardo Mazzeo, enfrenta os desafios da educação na sociedade contemporânea. Não se trata apenas de uma defesa genérica que costuma ser traduzida em termos de busca de mais recursos, ampliação da jornada, valorização dos professores e primazia do conhecimento, como se todos os males se devessem a um déficit no setor. Na verdade, o projeto de educação para o consumo é funcional e vitorioso, não sinal de uma derrota. Mudar a educação é um passo importante para a transformação da sociedade. Não se pode querer menos que isso". João Paulo Cunha
(veja o texto completo na seção desdobramentos).
Equipe do Centro Loyola
15.04.2013
Editora PUC-Rio - Loyola
Autor: Benjamim González Buelta sj
2013
Contemplar a realidade com novos olhares para descobrir a essência da vida, a fim de refletir a imagem de Deus. É o que defende Benjamín González Buelta SJ no livro Ver ou Perecer: mística de olhos abertos, publicado pelas editoras PUC-Rio e Loyola.
Buelta, padre jesuíta espanhol que reside em Cuba, instiga seus leitores a experimentem uma outra visão da realidade, de olhos abertos, para que descubram novas possibilidades de sentir Deus em um mundo tão fragmentado e difícil como o de hoje. Ver ou Perecer mostra a pedagogia deste olhar superando a cultura do negócio, da diversão, do desencanto ou da queixa.
Na primeira parte da obra é apresentado o desafio da aproximação contemplativa à realidade nesse mundo globalizado. Na segunda, aborda-se um itinerário contemplativo dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio, que ajudam a perceber a presença e a ação de Deus na realidade. Uma presença divina que, de acordo com o autor, deve ser experimentada de uma maneira mais profunda e viva que os nomes de santos colocados nas esquinas das ruas ou as estátuas de pedra nas fachadas das catedrais.
“Não há possibilidade de respeitar a realidade sem deixar-se afetar por esta última beleza e força da vida que atravessa os séculos...O místico de olhos abertos se inunda na realidade sabendo que entra na misteriosa criatividade de Deus em cada pessoa e em toda a história...”. Benjamim Buelta sj
Uma delícia de livro, recheado por belos poemas!
Equipe do site
27.03.2013
A Igreja e a nova autonomia do laicato no século 21.
Autor: Renold J. Blank
Editora Paulus
168 páginas
Bom livro para ler ou reler nestes novos tempos para a Igreja. O autor analisa a realidade do laicato na sociedade atual e mostra que o leigo na verdade não é mais “leigo”, é sujeito da própria vida e quer agir na Igreja como protagonista.
O livro possui cinco capítulos, com linguagem fácil e esquemática, a saber:
I - "A tecno-metrópole informatizada e o seu produto mais recente: uma Igreja desafiada por um leigo que não é mais leigo";
II - "Os três obstáculos estruturais que se opõem a um verdadeiro protagonismo do leigo";
III - "Análise estrutural e conjuntural das três exigências para um verdadeiro protagonismo do leigo";
IV - "Obstáculos pessoais e estruturais que dificultam uma integração plena de todos os fiéis";
V - "O ideal de uma Igreja que no seu meio superou toda e qualquer dicotomia".
A classificação dos leigos em cinco categorias (estereótipos): ovelhas, consumidores, emancipados, resignados e revoltados (cf. p. 67) - não deixa de provocar a nossa reflexão sobre o papel dos leigos na Igreja.
Diz o autor sobre o livro:
“Quando escrevi o presente livro, alguns dos meus amigos me desaconselharam muito a publicá-lo. “É perigoso”, diziam. “A Igreja não permite e não aceita tais reflexões.” Assim, eles me advertiram. Não posso acreditar naquilo que os meus amigos disseram. Tenho de minha Igreja uma imagem nobre demais para ter medo. Ela é para mim aquilo que a água é para o peixe; e mais de 25 anos de trabalho nela me ensinaram a respeitá-la e a amá-la. Foi nesses anos que conheci a sua vitalidade. Vitalidade que a torna capaz de se transformar. Vitalidade que lhe permite realizar sempre novas reformas. Vitalidade mantida por um Espírito que se manifesta como Espírito transformador de Deus. Esta Igreja é capaz de mudar. E ela é capaz também de ouvir propostas que questionam. Ela não só é capaz de ouvi-las, mas também de concretizá-las. Esta Igreja, que amo e pela qual estou entusiasmado, é capaz também, hoje, de ser a grande proposta alternativa para o futuro deste mundo, como tantas vezes ela o foi no passado”.
RENOLD J. BLANK é licenciado em Letras, doutor em Filosofia e em Teologia. Leciona Escatologia, Teologia da Revelação e Antropologia na Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, no Instituto Teológico de São Paulo (ITESP), no Centro Latino-Americano de Parapsicologia, em São Paulo, e na Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCCAMP).
Equipe do site
15.03.2013
Autor: Pe. James Martin sj
Editora: Sextante
O livro A sabedoria dos jesuítas para (quase) tudo, do jesuíta norte-americano James Martin SJ acaba de ser lançado. Ele apresenta as questões mais relevantes da espiritualidade inaciana, compartilhando as experiências que vivenciou em mais de vinte anos dedicados ao trabalho na Companhia de Jesus.
Com uma linguagem simples e acessível, histórias bem-humoradas e casos curiosos, o autor mostra que a espiritualidade está entranhada nas atividades cotidianas e que é possível chegar a Deus por meio dos relacionamentos pessoais, do trabalho, das escolhas e dos desafios diários. “O caminho de Inácio nos ensina que não há nada que não faça parte da vida espiritual. Todos aqueles assuntos nos quais se evita tocar – dificuldades conjugais, uma doença grave, um relacionamento rompido, preocupações financeiras – podem ser abordados e examinados sob a luz de Deus”, defende Martin.
O livro permite que o leitor compreenda quem foi Santo Inácio, que legado ele deixou e como sua maneira peculiar de encarar o mundo pode ajudar a levar uma vida serena e prazerosa.
O autor apresenta a Espiritualidade Inaciana em uma grande variedade de tópicos, como: fazer boas escolhas, encontrar uma ocupação relevante, viver com simplicidade, pensar sobre o sofrimento e se esforçar para ser uma pessoa melhor. “Para os inacianos, tudo é um elemento importante da nossa vida. Isso inclui os cultos religiosos, a leitura da Bíblia, a oração e o cuidado dos pobres, mas também se estende aos amigos, à família, ao trabalho, aos relacionamentos, ao sexo, ao sofrimento e à alegria – assim como à natureza, à música e à cultura pop”, explica.
O livro é de leitura agradável e bom para quem quer conhecer a espiritualidade inaciana.
Equipe do site.
15.02.2013
Lya Luft
Editora Record - 2012
Seria o adulto uma criança que, ao perder a mágica de fantasiar, torna-se alguém incapaz de enxergar o que acontece diante do próprio nariz? Essa pergunta é um dos eixos a percorrer O Tigre na Sombra, novo romance de Lya Luft, primeira ficção longa da autora desde O Ponto Cego (1999).
O Tigre na Sombra é centrado na figura de Dolores, filha mais nova de uma mãe amarga e um pai dócil e aparentemente dominado. Nascida com uma perna mais curta do que a outra, Dolores cresce sem o afeto da mãe, para quem a deformidade da filha é quase uma ofensa, ligada muito mais às figuras fascinantes da avó – uma mulher romântica que incentiva as fantasias infantis da neta, e do avô, um ex-marinheiro cheio de histórias para contar.
É uma abordagem que, se lembra um pouco a de O Ponto Cego, narrado pelo prisma da infância, também retorna a dois elementos chave da obra de Lya: o ponto de vista feminino (no romance anterior, a voz era a de um menino) e a formação de uma identidade feminina em uma família problemática.
Dolores é chamada por toda a família de Dôda. Cresce como uma criança solitária, propensa a ver o mundo com olhar mágico: o barulho do mar, ensina o avô, é o murmúrio do mundo; faz amizade com um garoto que não existe; e, finalizando, certo dia encontra nos fundos do pátio, um filhote de tigre de olhos azuis. A própria narrativa escolhe não afirmar se sua imaginação inventa o que não existe ou se a infância tem, na verdade, acesso a um território mágico que se torna interdito na vida adulta. Quando cresce e consegue driblar o desamor materno e o defeito físico, Dôda se torna vulnerável a um golpe que o leitor parece imaginar bem antes dela – a senhora dos mistérios não vê mistérios onde deveria.
Neste O tigre na sombra, Lya é fiel ao seu universo de mistério e dramas humanos muito reais que, de uma forma ou de outra, atingem todos nós. Os difíceis relacionamentos amorosos e familiares são o chão sobre o qual suas personagens caminham. O duelo entre vida e morte subjaz a todos os outros temas.
O mundo do espelho é lugar da liberdade e da poesia. O avesso real é decepção, tragédia, ruptura, caminho inevitável na busca de identidade de Dôda, a menina que se faz mulher.
“Talvez eu não precise saber o que fazer. Talvez não haja nada para ser entendido. O mar vai e vem, e vem e vai, e no seu tumulto permanece, enquanto nós humanos lutamos, queremos descobrir, achamos que sabemos – e a um embate de água e espuma tudo se desmancha como se nem tivesse existido. Castelos de areia, bichos formados com conchas e ilusão. Como dizia a minha Vovinha, isso de realidade é bobagem: cada um inventa a sua, o avesso pode ser o certo, no espelho pode estar a vida, e tudo aqui fora ser um sonho”. Lya Luft
Equipe do site
01.02.2012
Autor: José Tolentino Mendonça
Editora: Paulinas
Apenas sei que caminho
Como quem é olhado, amado e conhecido
E por isso em cada gesto ponho
Solenidade e risco.
(Sophia de Mello Breyner e Andresen)
Este livro faz parte de uma coleção lançada pelas Edições Paulinas em Portugal. O autor e coordenador da coleção é padre e poeta português, teólogo e diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura de Portugal.
Pe. José Tolentino toca com delicadeza e leveza em temas “caros” para a espiritualidade cristã: a busca interior, a solidão, o desejo do amor e da felicidade... Tece uma narrativa poética, profunda e lembra que somos peregrinos, dimensão esquecida no cotidiano, mas tão importante para a existência e a fé cristã.
Escrito de maneira saborosa, o livro é um diálogo do cristianismo com a cultura atual. Bebe da fonte da literatura, da poesia, da teologia e da Bíblia. Recupera em nós a “confiança básica” no amor de Deus, a fé e a esperança.
Uma surpresa e alegria ver a publicação também no Brasil. Espero que da coleção toda.
Lucimara Trevizan
Equipe do site
01.12.2012
Autor: Manuel Hurtado
Editora: Paulinas
Nas últimas décadas, a reflexão teológica debruçou-se sobre a problemática da religião e das religiões. A explosão religiosa destes tempos pós-modernos fez aflorarem desde movimentos religiosos vagos, espiritualistas, com toques místicos, até tradições religiosas nativas deste continente ou vindas do Oriente e/ou da África.
A teologia cristã não poderia ficar indiferente a essa nova situação. O teólogo protestante inglês John Hick e os teólogos católicos Aloisius Pieris, Paul Knitter, Jacques Dupuis e Claude Geffré dedicaram estudos especiais a tão delicada temática, alargando os horizontes do diálogo. Afastaram-se tanto do exclusivismo católico tradicional, que interpretava quase literalmente o Extra ecclesiam nulla salus, como de certas formas inclusivistas, para adotar diferentes expressões pluralistas.
Este livro enfrenta precisamente tal tema, consciente de que este é extremamente atual e espinhoso. Ele situa-se entre os dois extremos da rigidez dogmática: aquele que evita todo diálogo com as outras religiões, desconhecendo-as como verdadeiras mediações de salvação, e o viés do pluralismo, que afirma serem todas as religiões igualmente salvíficas. Seu enfoque do problema privilegia o mistério da Encarnação, e visa explicitar a fé cristã de maneira intelectualmente honesta, em face das questões levantadas pelas demais religiões.
A honestidade não nos permite desconhecer a seriedade do problema, mas também não nos leva a demitir-nos de dar razão esclarecida da própria fé cristã, cristológica. Daí surge necessariamente a tarefa de repensar a teologia, trazendo-lhe novidades. Se a teologia permanecesse totalmente a mesma, não teria havido diálogo nem abertura. Mas também, se abdicasse de sua identidade e originalidade, haveria somente conversão e não encontro dialógico. Entre esses dois extremos passeia a reflexão teológica de Manuel Hurtado, ao se confrontar com as perspectivas de pluralismo religioso dos teólogos escolhidos para este diálogo.
O ponto fulcral desta reflexão assenta-se na cristologia, e particularmente na Encarnação. Trata-se menos de teologia do diálogo inter-religioso e antes de teologia cristã das religiões. O que importa aqui é que a fé cristã se exprima a si mesma diante do mistério da pluralidade das religiões. O primeiro destinatário não se localiza nas fronteiras das outras religiões, mas no interior da fé cristã, quando ele se debate com a pluralidade das religiões. A obra responde, portanto, à proposta anselmiana da fé que busca inteligência. Dessa forma, o autor evita entrar na perspectiva dos que pretendem sondar os desígnios de Deus com respeito ao mistério da pluralidade das religiões, ao levantar a suspeita de que tal pretensão excede os limites do teologar humano.
Equipe do site
15.11.2012
Autor: Marco Heleno Barreto
Os textos reunidos neste livro abordam o pensamento de Carl Gustav Jung a partir de uma perspectiva filosófica, visando ultrapassar o nível da mera apresentação das ideias do psicólogo suíço, para fazer vir à luz alguns de seus aspectos e suas articulações fundamentais. Assim, são expostos o estatuto epistêmico da Psicologia Analítica, sua relação com a sabedoria prática filosófica antiga, a dimensão ética essencial que a define, sua inserção na experiência da modernidade, bem como alguns problemas relacionados à concepção de Jung acerca da experiência religiosa.
Equipe do Site
01.11.2012
Autor: Carlos Rafael Cabarrús sj
Edições Loyola
“E isso que se passa conosco, a respeito do qual Inácio soube muito, tem a ver, fundamentalmente, com os dois “rostos de nosso coração”: nossa ferida (nossa realidade machucada e vulnerada) e nosso poço de possibilidades e forças positivas. É nesse interagir dessas duas realidades que podemos ir encontrando a plenitude de nossa personalidade e descobrindo o sentido de nossa vida e nossa tarefa na história” (trecho do prólogo).
O livro trata do discernimento espiritual, tão importante para o cristão hoje. O autor recorre a imagens da experiência cotidiana, pois é no interagir das realidades de nossa ferida e de nosso poço de possibilidades que podemos viver com sentido.
A psicologia e espiritualidade inaciana também se abraçam neste livro.
Lucimara Trevizan
Equipe do Centro Loyola
15.10.2012
VITAL, J. D.: Como se faz um bispo segundo o alto e o baixo clero.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012.
Jornalistas e romancistas interessam-se pelos meandros da vida eclesiástica quer de Roma quer de Dioceses. Mundialmente famoso o romance de Morris West As sandálias do pescador, publicado em 1963, se tornou um filme em 1968. O romancista australiano em várias obras abordou a temática religiosa, construindo personagens fictícias, mas verossímeis. A literatura e o cinema têm-se interessado por tal veio, focalizando ora a vida de papas, como a de Alexandre VI Poder e luxúria e outros papas, ora atividades ligadas diretamente ao Vaticano como a canonização ou os Templários, ou Sociedades secretas a ameaçá-lo Anjos e Demônios, ou a eleição do Papa como Habemus Papam, o Santo Graal O Código da Vinci.
Vital não voou até o Vaticano, embora esse apareça com frequência. Escolheu o intrigante tema da escolha de bispos. Com veio de excelente jornalista, entrevista pessoas, informa-se sobre a vida eclesiástica. Como ex-seminarista, carregava já conhecimentos e experiências da vida interna da Igreja. Apura-as nesse livro em torno do processo das nomeações de bispo.
Estilo vivo, permeado de entrevistas, de alusões a pessoas bem concretas, conhecidas no mundo eclesiástico. Para facilitar a compreensão do livro, propõe, logo no início, vocabulário de termos usados nesse ambiente.
A escolha do bispo segue ritual já previsto e determinado pelo Código de Direito Canônico. Há também aspectos sigilosos que nos surpreendem pelo fato de alguns menos dotados terem sido escolhidos para bispos ou promovidos para arquidioceses importantes, enquanto outros tão capazes são relegados.
Vital (foto ao lado), na qualidade de repórter, não perdeu tempo. Aproveitava as ocasiões no encontro com cardeais, bispos ou outras pessoas bem situadas na hierarquia para colher alguma informação sobre o tema do livro. Recebia respostas ora evasivas ou bizarras, ora com dados interesses.
O enfoque principal girou em torno da Igreja do Brasil. Entretanto perseguiu tenazmente noticiários mundiais onde se transmitiam elementos para compor o texto. Folheou inclusive teses doutorais como a do ucraniano Tkhorovsky, precisamente sobre O procedimento para a nomeação dos bispos. Evolução do Direito Canônico de 1917 ao de 1983, o livro do jesuíta Th. Reese Inside the Vatican [Por dentro do Vaticano], a obra de González Faus . Ningún obispo impuesto, escritos de teólogos importantes e críticos como Hans Küng, J. M.. Castillo, J. Comblin, além de sites progressistas como Adista e IHU. Com tantos dados e conhecimento, o livro faz-nos passear por meandros bem divertidos.
Com frequência recorreu a dados da história da Igreja, para confirmar atos presentes ou para mostrar a diferença, como, p. ex., a participação da assembleia dos fieis na nomeação dos bispos no passado em contraste com a atual centralização. Com efeito, esse sistema variou ao sabor das tradições, como o caso do Padroado no Brasil.
A leitura do livro nos prende pela farândola de dados bem tecidos e variados. Com rapidez salta do informativo, estatístico presente para elementos colhidos da história do passado. Conjuga fatos jocosos com frias constatações. Como muitos personagens ainda vivem ou morreram recentemente, o leitor eclesiástico segue com interesse as observações tecidas.
O estilo direto e claro torna os personagens vivos. Não lhe faltaram dúvidas sobre a pertinência de tal obra. Recebeu, porém, incentivos de padres e bispos para escrevê-la. E assim deixou-nos retrato da Igreja institucional. Certamente parcial, como toda fotografia. Mas com dados verdadeiros que somados a outros nos permitem sentir o momento eclesiástico presente.
O Autor tece o texto como uma rede. Narra um fato ou descreve um personagem em ligação com a teia de dados que tal lhe sugere tanto distante no tempo e no espaço, como próximo. O leitor navega continuamente por territórios bem diferentes a partir do ponto central exposto. Estilo bem jornalístico, móvil, ágil, rompendo toda monotonia histórica. Não escreve linearmente nem logicamente, mas por associações bem diversas e pormenorizadas.
Impressiona a gigantesca quantidade de informação que Vital armazenou para escrever o livro a respeito de pessoas, de situações, de obras, de instituições, de organizações eclesiásticas. Não as cataloga por relevância ou numa lógica acadêmica, mas as entrelaça pela via da ligação imaginativa. Isso torna a leitura leve, agradável.
Na perspectiva da nomeação de bispos, discorre sobre os Pontifícios Colégios Pio Latino e Pio Brasileiro, onde outrora se estudaram bispos brasileiros. Consideravam-nos, naqueles idos, como sementeira episcopal. Os bispos carregavam a marca romana. A Pontifícia Universidade Gregoriana viu e vê ainda glórias maiores. Por lá passaram 16 papas entre os ex-alunos.
Mereceu menção a Academia dei Nobili Ecclesiastici, fundada em 1701, para ser escola para a formação diplomática. Pio XI mudou-lhe o nome para Pontifícia Academia Eclesiástica, posta na órbita da Secretaria de Estado do Vaticano. Traça aspectos interessantes de sua história ao longo de mais de três séculos, onde estudaram autoridades pontifícias até não sacerdotais como o Card. Antonelli. Hoje se afirma o caráter sacerdotal da vocação diplomática na Igreja. Figuram no livro biografias de núncios de vários países. Não faltam exemplos edificantes de santidade entre eles além de certo toque de mundanidade em outros.
O Autor passeia pelos meandros da Congregação dos Bispos, que assessora de maneira direta e imediata o Papa na eleição dos bispos. Por isso a Cúria Romana merece detalhado estudo. Sobre ela já se escreveu muito. Uns consideram-na o primeiro Estado Moderno do Ocidente. Peter Drucker, especialista em Administração, mostra-se entusiasta declarado dos processos utilizados por ela. Ele dizia que “administrar é manter as organizações coesas, fazendo-as funcionar”, como acontece na Igreja Católica. A dúvida fica se a proximidade com a Cúria contribui para ser escolhido como bispo. Há casos que confirmam a hipótese. Eles serão eventualidades ou configuram alguma vinculação?
Em relação com a nomeação dos bispos, o A. detém-se no papel relevante dos núncios e suas assessorias nos diferentes países. A Igreja católica passou por situações plurais na escolha de bispos. Em dado momento, predominou o poder temporal. Depois se foi firmando a autonomia da Santa Sé e a crescente relevância dos núncios. Vital reproduz a ficha de informações que se pedem sobre o candidato a bispo. Elas abarcam os itens: notas pessoais, dotes humanos, formação humana, cristã e sacerdotal, comportamento, preparação cultural, ortodoxia, disciplina, aptidões e experiência pastoral, dotes de governo, capacidade administrativa, pública estima e juízo global sobre a personalidade do candidato e sobre sua idoneidade ao episcopado. Normalmente o processo segue ritual minucioso, sério, sigiloso e com enorme cuidado a ponto de Carlos Heitor Cony chamá-lo de “complicado, um mistério”. Claro, onde há seres humanos há vazamentos e caminhos paralelos.
O repórter Vital recolhe nos principais órgãos e junto a pessoas que influenciam em tal processo canônico saborosas informações, não sem toque de ironia. Dá nome a quase todas as fontes usadas de modo que o leitor fica conhecendo muitos personagens do mundo eclesiástico no que pensam e agem. Deparamo-nos com a realidade humana de bispos maravilhosos como Dom Helder, Dom Luciano, Cardeal Arns, Dom Isnard, Dom José Maria Pires. Vários deles mereceram todo um capítulo. Além disso, Vital deu a palavra a inúmeros bispos de todas as cores ideológicas, mas com predominância dos abertos e progressistas. Não omitiu o lado escuro dos casos de pedofilia. Revela assim o retrato da Igreja santa e pecadora. Nem lhe faltou abordar a tristemente afamada invidia clericalis que interfere sobretudo nos vetos às nomeações ou retarda-as. Tratou do preconceito racial que vigeu a respeito da autenticidade da vocação do negro para a vida religiosa e para a ordenação presbiteral, e com mais razão ainda episcopal. Acenou várias vezes para o famoso carreirismo eclesiástico, doença comum a toda instituição, da qual a Igreja não se isenta. Circulam até algumas regras para desenvolver tal atitude, com certo tom de brincadeira, que, porém, contém ponta de verdade.
A riqueza do livro lhe vem da amplitude continental dos dados presentes e das inúmeras incursões históricas. Esse jogo entre presente e história faz uma das riquezas do texto. As afirmações do A. não permanecem no geral, mas se carregam de exemplos concretos e bem definidos a torná-las assim claras. A leitura deixa-nos a ideia de que nos últimos tempos a política da escolha dos bispos privilegiou homens submissos, com tendência conservadora, afinados com os ensinamentos oficiais sem criticidade, que ironicamente são chamados de “vaquinhas do presépio”. “Não se fazem mais bispos como antigamente”, observa Vital, ao constatar o “lamento que, vez em quando, se ouve de padres e sobretudo de religiosos que se sentiram cativados pelas figuras de Helder Câmara, Paulo Evaristo Arns, Pedro Casaldáliga, Ivo Lorscheiter, Aloísio Lorscheider, Mauro Morelli, Luciano Mendes de Almeida, Tomás Balduino e outros prelados que honraram a Igreja do Brasil nas últimas décadas do século XX”, como escreve o bispo de Dourados, MS, dom Redovino Rizzardo. Mas não faltam exceções de homens profetas como Erwin Kräutler, Luiz F. Cappio, J. L. Azcona, Esmeraldo Barreto de Farias, Moacyr Grechi e outros, cita o mesmo bispo.
Percorre casos de bispos que causaram embaraço para Igreja por atitudes bizarras. O britânico Richard Williamson teve que abandonar apressadamente a Argentina por ter negado a veracidade do Holocausto judeu no nazismo. Outros fatos muito divulgados giraram em torno do africano Milingo, ligado a sessões de cura, do francês Gaillot que participou da Gay Pride, de ordenação de bispos na China sem mandato apostólico, de bispos ligados ao cismático Mgr. Lefebvre, do casamento de bispos como o do argentino Podestá e o do brasileiro Marcos Noronha.
Nem faltaram no livro considerações sobre a situação do bispo emérito com as alegrias e tristezas inerentes à nova condição, sem esquecer o lado econômico de sua sobrevivência. Apesar da discrição da Igreja sobre vencimentos de sua hierarquia, sabe-se, porém, escreve Vital, que não chegam nem perto da remuneração de um embaixador do Brasil, ou de deputado ou senador. Alguns conhecem até privações depois de aposentados.
Ao terminar o livro, fica a impressão da seriedade que a Igreja atribui à seleção dos bispos. Pode errar. Mas pesquisa, informa-se, busca acertar. O leitor se vê quase submergido por tanta informação, dados, citações de conversas, referências de livros. Texto rico, disperso pela natureza própria do jornalismo. Não assume nenhum tom acadêmico ou doutrinal, mas deixa-nos perguntas profundas sobre o futuro da Igreja no referente à nomeação de seus pastores. No decorrer da leitura, muita beleza aparece na vida de tantos e tantos bispos. Boa viagem pelas paragens eclesiásticas do Brasil e do mundo!
Pe. João Batista Libânio sj
15.09.2012
De Elizabeth Gontijo
Editora & JM, 124 páginas
“A Beleza dos restos” é o último livro de poesia de Elizabeth Gontijo, querida amiga do Centro Loyola. Lançado no ano passado é seu sexto livro de poemas que saiu também em versão digital e bilíngue.
Bebeth tem o olhar atento para o cotidiano e dele faz poesia. A beleza dos restos nos faz descobrir e contemplar esses “restos” que constituem nossa vida. “É possível a vida abraçar restos”, afirma Elizabeth. Delicada como autora, sua poesia conduz ao silêncio, ao espanto, a beleza.
Veja a entrevista de Elizabeth na Rede Minas de Televisão:
Parte 1
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Parte 2
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Equipe do Centro Loyola
15.09.2012
Autor: Elton Vitoriano
Edições Loyola
O livro Reconhecimento ético e Virtudes é uma investigação do universo simbólico da sociedade contemporânea e sua dinâmica intersubjetiva. Este estudo foi realizado confrontando as posições dos três filósofos: Henrique Cláudio de Lima Vaz, Charles Taylor e Alasdair MacIntyre. Apesar de perspectivas diferentes, os três filósofos apresentam certas opções filosóficas coincidentes.
Para MacIntyre, os fundamentos da lei e das virtudes devem ser buscados nas tradições e nas relações intersubjetivas que constituem uma determinada comunidade. O vínculo central é uma visão dos bens comuns partilhados pelos membros de determinada tradição e comunidade. Esta é a forma de restituir a inteligibilidade e a racionalidade no empenho moral e social das sociedades contemporâneas. Taylor reinterpreta a questão do reconhecimento ético hegeliano. Para ele o homem é um animal social que age privilegiando certos fins e valores que são compartilhados socialmente. Estes fins e valores fazem parte do horizonte de sentido compartilhado a partir do qual cada indivíduo vive sua identidade. A partir de Hegel, Taylor interpreta a eticidade e a racionalidade como sendo fundadas socialmente. Por sua vez, Lima Vaz herda de Aristóteles a interpretação do ethos como mundo das coisas humanas. Mundo onde o ser humano vive racional e livremente suas práticas éticas, as quais se traduzem em exercícios das virtudes como uma ordenação permanente e progressiva do agir ético ao horizonte universal do bem. Assim, a virtude, como qualidade do sujeito e como movimento para um crescimento humano, é a categoria segundo a qual deve ser interpretada a universalidade da razão prática operando na vida do indivíduo e na vida da comunidade. De Hegel, Lima Vaz herda a questão do reconhecimento como o primeiro momento para a efetivação concreta da autoafirmação do sujeito como eu, que acontece sempre no encontro com o outro. Neste encontro, o co-existir é constitutivamente um co-existir em um espaço ético, espaço de relações, de fins comuns e de horizontes partilhados.
O itinerário deste livro tem em vista, pensando junto com os autores, empreender uma análise crítica da configuração ética da sociedade contemporânea e uma discussão da dinâmica da intersubjetividade ética a partir dos conceitos de reconhecimento e virtudes. A crítica se apresenta como primeiro momento do esforço filosófico de compreender a realidade.
Equipe do site
01.09.2012
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