Uma telespectadora sugeriu ao Jô Soares que o seu programa deveria constar apenas dos melhores momentos. Muitas vezes, seguindo a telespectadora do Jô, o que nós pedimos a Deus é que a vida nos chegue apenas com os bons momentos. O que é mais do que compreensível dada a intensidade da dor causada pelo sofrimento e da extensão que ele costuma adquirir. Seja em geral, atinente a muita pessoas, seja no sofrimento de cada um de nós, nas perdas e nas dores inevitáveis da vida. Nenhuma palavra, mesmo a mais generosa, nos consolará de todo. É tamanho o paradoxo do sofrimento que, tendo aparecido no livro de Jó, veio, noutro contexto, o da história da cultura ocidental, a constituir uma das razões alegadas pelo ateísmo contra a existência de Deus. O argumento é conhecido: ou Deus não é onipotente e não pode suprimir o sofrimento ou, sendo onipotente, não quer suprimi-lo, o que impede que o consideremos bom. A glosa do argumento aparece quando diante de um grande mal nós nos perguntamo:s onde está Deus?.
Há respostas habituais, diversamente respeitáveis, mas que não atenuam a nossa dor. Haveria um sentido, inteiramente desconhecido para nós no nosso sofrimento, ou o nosso sofrimento seria um resgate de algum mal por nós praticado no passado, ou ainda o sofrimento constituiria uma oportunidade de ascensão espiritual, mas nada disso afasta a nossa inquietação. É fato que compreendemos pouco ou que podemos aprender com o sofrimento, mas anda assim nossa inquietação perdura.
Ricardo Fenati
Equipe do Centro Loyola
21.08.2025