Desde que soube da morte de Francisco fui tomado por uma misteriosa tristeza. O sentimento era diferente daquele que senti outras vezes, quando alguém famoso a quem admirava havia falecido. Com Francisco, a sensação era de que havia perdido um amigo. Ao longo do dia, acompanhei na TV e nas redes sociais diversas manifestações de afeto. Em uma delas, alguém expressava que embora nunca tivesse estado com o Papa, sentia como se tivesse perdido um parente próximo, alguém íntimo, “de casa”.

Francisco ficará lembrado na História por muitas de suas realizações. Poderia citar o seu compromisso com a promoção de uma cultura de paz, com o diálogo inter-religioso, com a proteção do meio ambiente, dos refugiados e dos mais pobres. Ou, ainda, as suas contribuições teológicas por meio de suas encíclicas, exortações pastorais ou outros documentos em que ele nos convida a olhar para os desafios do nosso tempo e nos lembra da nossa missão como “igreja em saída”, que não se encastela, mas, pelo contrário, busca o encontro. Uma igreja que fala e ouve.

Daqui a alguns séculos, quando estudarem seu pontificado, talvez sejam esses os marcos pelos quais será lembrado. Para nós, que tivemos o privilégio de vivermos no seu tempo, todos esses feitos se condensam na figura de um simpático senhor que manifestava nos seus gestos cotidianos a alegria do acolhimento fraterno. Francisco nunca quis se mostrar diferente ou acima de nós, mas sim um entre nós.

Brincava e sorria sempre. Quando perguntaram sobre o fato de ser argentino ser um problema para nós brasileiros, dada a nossa histórica rivalidade no futebol que ele tanto amava, respondeu com bom humor que o papa era argentino, mas Deus brasileiro. Estava resolvido. A gente se sentia próximo de Francisco, ou Chiquinho (ouvi alguém dizer).

No seu testamento, mais um testemunho de quem foi. Quis que seu túmulo fosse simples, sem referência às honrarias que merecidamente recebeu em vida. Na lápide, apenas: Francisco. Um papa, um sacerdote, um amigo se vai. Sentiremos sua falta!

Marco Túlio de Sousa

Pesquisador e coordenador do Grupo de Estudos em Comunicação Católica do Centro Loyola de BH